O desmatamento, as queimadas e a favelização foram os principais motivos para o aumento de quatro vezes na quantidade de espécies de árvores ameaçadas de extinção no Brasil nos últimos 16 anos, a maior parte na Mata Atlântica, informou nesta sexta-feira o Ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Lista oficial de espécies ameaçadas
Ao menos 472 espécies correm o risco de desaparecer dos biomas brasileiros nos próximos anos, sendo 276 delas encontradas principalmente na área que restou da Mata Atlântica, de acordo com a nova lista de espécies da flora nacional ameaçadas. A lista oficial anterior de árvores ameaçadas datava de 1992, com 108 espécies.
Outras 1.079 espécies nacionais ainda podem estar ameaçadas de extinção, porém não foram incluídas por enquanto na lista devido à falta de informação suficiente. Somadas, as duas listas se aproximam do mesmo número de espécies, mais de 1.500, que consta da relação de flora ameaçada da ONG Biodiversitas.
De 2004 a 2005, essa ONG promoveu a revisão da lista de plantas ameaçadas de extinção no Brasil, com recursos do Ibama e da iniciativa privada. Segundo nota da organização, a lista final continha 1.495 espécies ameaçadas, dentre 5.212 avaliadas.
Para Carlos Minc, relacionar todas as plantas numa só lista diminuiria a importância de preservar as espécies que já estão comprovadamente em risco, porém a lista ainda vai aumentar com o avanço das pesquisas.
Assim como já é feito sobre a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal, o Cerrado, a Caatinga e o Pampa também passarão a ser monitorados via satélite, o que permitirá um cenário mais amplo do desmatamento no País.
“O número verdadeiro das espécies ameaçadas seguramente é maior do que esse (472) e nós, governo e sociedade civil, temos que agir para que nossos filhos e netos não sejam obrigados a conhecer algumas essas espécies somente em jardins botânicos e museus”, afirmou Minc a jornalistas durante a divulgação da nova lista, que inclui espécies de uso comercial como o palmito jussara, o jaborandi (medicinal) e o jacarandá (madeira).
“O verde da bandeira está sendo dizimado diariamente pela especulação, pela queimada e pela impunidade ambiental”, acrescentou o ministro.
O Sudeste brasileiro, onde fica maior parte dos 8,5% que sobraram da Mata Atlântica, é a região com o maior número de espécies ameaçadas, com 348, seguido por Nordeste (168) e Sul (84). Entre os biomas, a Amazônia está entre os que tem menos espécies na lista, com 24.
Segundo Minc, o aumento da área fiscalizada para além da Amazônia vai revelar grandes números de desmatamento no País. Os primeiros dados do Cerrado serão apresentados já na semana que vem, com base em dados repassados ao ministério por entidades que já faziam um monitoramento do Centro-Oeste nos últimos anos. “Eu sobrevôo toda semana a Amazônia e sempre tem gente queimando. Imagina agora que vamos fiscalizar o País inteiro. Tem muito mais gente derrubando árvore do que preservando”, afirmou.
O ministro adiantou que o desmatamento na Amazônia aumentou consideravelmente nas últimas semanas em decorrência do período pré-eleitoral, quando as autoridades locais diminuem a fiscalização para não prejudicarem suas campanhas, segundo Minc.
O último dado divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, no mês passado, revelou o menor nível de desmatamento da área amazônica desde março, com 323 quilômetros quadrados de floresta destruída. A queda, de 60% se comparado com os 870 quilômetros quadrados de junho, foi a terceira consecutiva apontada pelo Inpe.
“O desmatamento está um horror em véspera de eleição. Ninguém quer multar ninguém, parece até um ‘liberou geral”‘, disse Minc.
Medidas
As espécies consideradas ameaçadas estão sujeitas às restrições previstas na lei e sua coleta só poderá ser efetuada com autorização do órgão ambiental competente.
O decreto que traz as duas listas também determina que as espécies ameaçadas sejam objeto de planos de ação elaborados e implementados sob a coordenação do Instituto Chico Mendes e do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Esses planos, que terão como objetivo permitir que as espécies ameaçadas deixem a lista, terão de ficar prontos em cinco anos. As espécies ameaçadas terão prioridade para receber apoio financeiro federal e na expansão e gestão de unidades de conservação ambiental. (FONTE: O Estado São Paulo 09/08)