É primavera! Observem estas lindas florzinhas que parecem que foram colocadas lá para o prazer de nosso olhos. Mas elas não são apenas agradáveis ao olhar, elas também podem cumprir uma outra tarefa na natureza : limpar os solos e as águas da poluição por metais pesados, provenientes das indústrias. Seu nome é Thalaspi caerulescens, da família Brassicaceae, e ela é um dos principais focos das pesquisas sobre a fitoremediação, que tem como objetivo o uso das plantas para degradar, remover ou estabilizar substâncias tóxicas do solo ou das águas contaminadas.
E ela não é a única, existem várias plantas chamadas hiperacumuladoras, i.e, que podem estocar metais dos quais elas não necessitam para seu desenvolvimento (ou que os metabolizam para espécies menos nocivas) que podem realizar esta faxina na natureza. Pois, se estes metais pesados poluidores não forem retirados ou impedidos de migrar, eles vão se acumular nos vegetais comestíveis ou contaminar o lençol freático, acarretando problemas como dermatite alérgica, perfurações do septo nasal, câncers, cefaléia, náuseas e desmaios nos seres humanos. E não é apenas a contaminação por os metais pesados que podem ser tratada por esta técnica, os solos e águas contaminados por herbicidas ou derivados do petróleo também.
Em seguida, os metais contidos nas plantas podem ser extraídos da biomassa, os metais armazenados podem ser recuperados por empresas de fitomineração e o ciclo estará fechado. Este processo é mais barato que os métodos convencionais, que necessitam retirar a terra poluída e transportá-la para um local de tratamento ou depósito.
O problema é que estas plantas só podem recuperar uma baixa concentração destes poluentes. E é aí que entra o estudo efetuado na Universidade de Liège, por exemplo, no qual se estuda o genoma destas plantas para descobrir quais são os genes responsáveis por estas propriedades. Uma vez conhecidos, estes serão então inoculados em plantas como o fumo ou o álamo, que apresentam um crescimento mais rápido ou uma capacidade mais elevada de captação destes poluentes. O “hic” em relação ao meio ambiente é a utilização de transgênicos…mas os cientistas que desenvolvem estas pesquisas tranqüilizam o público afirmando que estes podem ser esterilizados, eliminando assim o risco de propagação.
A fitoremediação já é uma realidade. Nos EUA, a mostarda indiana transgênica, por exemplo, foi usada para tratar solos contendo arsênico na Califórnia. No Canadá, o chumbo, o cobre e o zinco foram retirados do solo graças a 3 espécies : o salgueiro, a mostarda indiana e a festuca (gramínea para pastagens). A Universidade da Georgia desenvolve algodoeiros transgênicos para limpar solos contaminados com mercúrio. As plantas já estão sendo testadas em um terreno da cidade de Danbury, no Estado norte-americano de Connecticut, de onde 60 algodoeiros irão retirar o mercúrio depositado por uma antiga fábrica de chapéus.
No Brasil, várias equipes de pesquisas já se debruçam sobre este processo, em escala de laboratório. Por exemplo, um tipo de samambaia é estudado para a fitoextração de arsênio e o feijão de corda é usado para a recuperação de solos contendo herbicidas. O chorão para a recuperação de águas contendo derivados de petróleo; mamona, girassol, pimenta da Amazônia e tabaco para o tratamento de solos contendo cádmio, chumbo, cobre, zinco e níquel.
Embora esta técnica apresente limitações tais como um tempo de descontaminação longo, ela é economicamente viável e uma excelente utilização de recursos naturais. Resta esperar que seja levada a sério, ultrapasse a escala de laboratório e chegue aos nossos campos.